Apresentação

Blogue sobre as actividades da Galeria Quadrum no período 1973-1995, sob direcção da sua fundadora e directora, Dulce d'Agro. A reconhecida importância da Quadrum no panorama artístico português serve de mote e justifica o projecto de constituir um corpo documental "paralelo" à inexistência de um Arquivo da Galeria. A constituição de qualquer arquivo é uma das mais poderosas formas de elaboração do discurso (M. de Certeau). Correlativamente, a sua inexistência também o é: a ausência de um Arquivo de facto da Quadrum é, a vários títulos, significativa. Desde logo por abrir campo a todo o tipo de especulações, mais ou menos verídicas, mais ou menos mitológicas, sobre o lugar da Quadrum no tecido institucional artístico português; mas também por revelar as insuficiências desse mesmo tecido institucional, frágil o bastante pela dificuldade em cuidar das suas próprias heranças e pela incapacidade de projectá-las no presente. Numa altura em que o assunto "arquivo" alcança um protagonismo sem precedentes no contexto das práticas artísticas e curatoriais, Quadrum Arquivo Paralelo configura-se do ponto de vista da investigação historiográfica e teórica, tornando visível o momento fundador do trabalho de pesquisa: a recolha das fontes. O objectivo primeiro de Quadrum Arquivo Paralelo é, então, o de criar uma base estável (ainda que imaterial) para a reunião de documentos que possibilitem uma visão mais alargada e aprofundada das actividades da Galeria no decurso do período considerado.


Programa Colateral

Quadrum Arquivo Paralelo integra o "Programa Colateral", uma série de eventos com curadoria de Lígia Afonso, desenvolvido no contexto da exposição "Tudo foi captado (mesmo os movimentos do cabrito)" de Alexandra do Carmo, com curadoria de Catarina Rosendo, na Galeria Quadrum entre 25 de Setembro de 2011 e 22 de Janeiro de 2012.

PROGRAMA COLATERAL
Um programa que se faça a propósito de uma exposição, ou decorre directamente dela, como um seu desdobramento compósito; ou corre paralelamente a ela, sendo-lhe simultâneo sem nunca a atravessar; ou é-lhe colateral, como este que aqui se apresenta. Neste caso, não podia ser de outra maneira. Exposição e programa, quando diferentemente comissariados, são parentes chegados (partilhando ascendência e alguns familiares próximos), mas a sua relação não lhes determina uma descendência directa. Imaginámos duas vias para a significação dessa colateralidade: a tentativa de harmonizar, complementando (ou a demanda da falha e a tentativa de a preencher); e o reenquadramento ideológico dos princípios (projectando as nossas inquietações no fértil terreno alheio). Sem intervenção directa no pensamento que dá origem à exposição monográfica, esta programação, realizada a convite, assume o lugar de uma contra-proposta critico-intersticial.
Pensar a complexidade do lugar da Quadrum no contexto complexo da própria Quadrum é tanto útil quanto perigoso, porquanto circunda os nefastos limites do celebratório. Recorremos, não obstante, aos nossos instrumentos preferenciais de trabalho (as metodologias base da investigação), para os alinhar curatorialmente nas dimensões crítica, historiográfica, educativa e artística, nessa mesma direcção. Talvez que, solenizando a desmemorização do espaço político, ele se refunde.

Quadrum Arquivo Paralelo, online Sábado 24 de Setembro de 2011, 00h00 | Autoria de Catarina Rosendo e Lígia Afonso

Quadrum Arquivo Paralelo é um projecto em curso que se estende para lá da duração do "Programa Colateral" e da exposição que lhe deram origem. A pesquisa em torno de imagens e outros materiais documentais relativos ou associados à Galeria prossegue depois do lançamento público do blogue. Todos os interessados são por isso convidados a visitar regularmente o Quadrum Arquivo Paralelo e também a contribuir para os conteúdos disponibilizados, contactando as suas autoras.
“o que é que aconteceu no meio disto tudo…”, actividade educativa para todos | Lígia Afonso | Quadrum: Sábado 15 de Outubro de 2011, 15h00
A formação de públicos para a arte moderna e contemporânea, programaticamente desenvolvida na Quadrum, foi pioneira no tecido artístico português e teve uma definitiva importância no desenvolvimento do espaço social da galeria. O sucesso da sua aceitação e os seus níveis de participação contribuem hoje, inequivocamente, para enformar substancialmente a sua memória colectiva construída. As suas actividades oficinais, abertas e dirigidas enfaticamente às crianças, eram geralmente mediadas por artistas próximos à galeria. Os cursos ali realizados por Rui Mário Gonçalves, Salette Tavares ou Ernesto de Sousa, entre outros, de iniciação à “arte moderna”, de gravura, de performance ou de vídeo-arte, prosseguiam o mesmo desejo de divulgação e actualização estéticas. A nossa proposta de actividade funda-se nesse património formativo oral (porque dele não temos, nem constam, quaisquer elementos referenciais) para o convocar como referência pedagógica e restaurar a sua experiência, modesta e incidentalmente, a partir da exposição de Alexandra do Carmo.

"A festa mais bonita que eu já vi", edição do projecto Musa paradisiaca | Eduardo Guerra e Miguel Ferrão | Online em http://www.musaparadisiaca.net/ | Evento na Quadrum: Sábado 12 de Novembro de 2011, 14h00

Eduardo Guerra e Miguel Ferrão partilham a autoria do projecto Musa paradisiaca, que desenvolvem em paralelo com as suas práticas artísticas individuais. Alocado na web, o projecto desenrola-se em episódios que partem do convite dos autores a uma terceira entidade, excitando uma parceria específica que determina apenas aquele fim. Musa paradisiaca é, simultaneamente, um projecto sonoro e editorial, cujo desígnio é a exploração das reacções e assimetrias conversacionais. A acentuação do legado ideológico dos conversantes é por demais evidente ainda que a conversa decorra colateralmente ao assunto e desambigúe posteriormente a uma só voz.
A maturação reflexiva sobre o lugar da Quadrum (donde interessa referir a participação de Eduardo Guerra na exposição colectiva “Anti-Totem” logo após a reabertura da galeria em 2010); a coincidência do suporte sonoro e de investigação com o do trabalho apresentado pela Alexandra como axial à proposta sua expositiva; e o antagonismo, em relação ao mesmo, no formato de apresentação, na metodologia processual e na intenção de radicalização discursiva; foram alguns dos aspectos que fundamentaram o convite (invertendo a provocação original dos anfitriões do projecto) à participação do Musa paradisiaca, com uma edição e um evento específicos, neste Programa Colateral.

QANTINA - lanche/convívio comunitário | Concepção e organização de Lígia Afonso e Mattia Denisse | Apresentação simultânea do projecto Quadrum Arquivo Paralelo | Quadrum: Sábado 17 de Dezembro de 2011, a partir das 12h00

As fachadas de vidro que definem o espaço térreo de um dos edifícios do complexo dos Coruchéus, desenhado por Fernando Peres Guimarães e inaugurado em 1971, condicionaram a reconversão do lugar, pensado para servir como restaurante e snack-bar de apoio aos ateliês municipais, em galeria. Essa adaptação funcional do espaço, logo em 1973, beneficiou da existência de uma série de espaços privados subterrâneos que, de armazém e copa, passaram a acervo e escritório. Beneficiou também da interferência lumínica exterior, porquanto esta condicionou muitíssimo os formatos de exposição convencionais e, por essa via, obrigou ao desenho de uma moderna estrutura amovível de alumínio, forrada a feltro, com painéis para exibição de materiais bidimensionais. Por outro lado, especulamos que este desacerto funcional tenha também contribuído para o desenvolvimento de experimentalismos vários, e sobretudo para a determinação sistemática da intervenção artística naquele espaço como happening, como acontecimento performático. A arquitectura original, hoje alienada, alicerçou, por isso, um espaço de acção convergente com o tempo histórico que atravessava. Em QANTINA propomos materializar, simbolicamente, o que o espaço, ultrapassado por um anseio utópico, nunca chegou verdadeiramente a ser.